Convergência ocular consiste no movimento de convergir os olhos, ou seja, aproximá-los da linha média como resultado da contração bilateral dos músculos retos mediais. Alterações na simetria deste movimento ou a incapacidade de realizá-lo, é classificado como hipoconvergência ocular.
Para se entender a importância desta disfunção, devemos ter em mente as relações anatômicas e funcionais do sistema sensorial visual. Segundo Bricot, (2004), a postura é organizada pelo sistema vestibular que recebe informações de três principais captores: pés, aparelho mastigatório e os olhos. Além disso, poríamos incluir certamente a pele nesse sistema de captores. Além da perda de mobilidade dos variados tecidos corporais, disfunções nestes captores, podem afetar o controle postural.
A influência direta dos olhos pode ser observada através do reflexo óculo-cefálico, realizado no teste de morte encefálica, onde roda-se de forma passiva a cabeça do paciente no sentido horizontal observando se os olhos se mantêm fixos ou não. Além disto, ao direcionarmos o olhar em um objeto localizado lateralmente pode-se notar um aumento da atividade tônica da musculatura cervical homolateral e consequentemente a rotação da cabeça, facilitando a visualização do objeto desejado.
Liem (2004) reforça que devido à grande influência da musculatura extraocular sobre o tônus dos músculos cervicais, disfunções do captor ocular modificam o posicionamento da cabeça, alterando os eixos dos ductos semicirculares, afetando a organização postural e manutenção do equilíbrio corporal.
Desta forma, o tratamento osteopático se dá pela correção das disfunções de mobilidades das estruturas envolvidas. Sabemos que o controle motor extraocular é realizado por três pares cranianos, onde o nervo Oculomotor (III) inerva os músculos retos superior, inferior e medial, assim como, o músculo oblíquo inferior; o nervo Troclear (IV) inerva o músculo oblíquo superior e, por fim, o músculo reto lateral sendo controlado pelo nervo Abducente (VI). A hiperatividade deste último músculo impede o desvio medial dos olhos, resultando na hipoconvergência.
Estes nervos cranianos atravessam canais osteomembranosos como por exemplo a fissura orbital superior do osso esfenoide, sendo consideradas zonas vulneráveis para o aparecimento de disfunções desses tecidos. Além disto, Upledger (2013) ressalta que estas estruturas, por serem envolvidas pela tenda do cerebelo, podendo receber tensões provenientes de variadas disfunções cranianas e demais regiões do esqueleto axial pela relação com a membrana dural.
Por último, devido à íntima relação entre estas fibras nervosas e as estruturas do sistema circulatório intracraniano, como artérias e o seio cavernoso, qualquer alteração anatômica dos vasos e de sua motricidade podem afetar as funções oculares. Dessa forma, é importante focar também na irrigação arterial e drenagem venosa craniana, assim como o controle autonômico desses vasos, localizados nos níveis torácicos altos e cervicais.
Portanto, para uma análise global da postura e função do paciente, a avaliação do captor ocular deve ser incluída na rotina clínica, visto que, ao observar distúrbios, estes podem estar relacionados à diversas condições disfuncionais e sintomatológicas.
REFERÊNCIAS
Bricot, B. Posturologia. – Editora Icone. 3ª Ed., 2004
Upledger, J. Terapia craniossacral II: Além da Dura-máter. 1ª Ed. 2013.
Moore, KL; Dalley, AF; Agur, AMR. Anatomia Orientada para clínica. Editora Guanabara Koogan, 6°Ed., 2011.
Friedrich M, Grein HJ, Wicher C, Schuetze J, Mueller A, Lauenroth A, et al. Influence of pathologic and simulated visual dysfunctions on the postural system. Exp Brain Res. 2008;186(2):305-14.
Lien, T.; McPartland, JM; Skinner, E. Cranial Osteopathy: Principles and Practice. Editora Elsevier. 2004
Duarte M, Zatsiorsky VM. Effects of body lean and visual information on the equilibrium maintenance during stance. Exp Brain Res. 2002;146(1):60-9.
Le, TT; Kapoula, Z. Role of ocular convergence in the Romberg quotient. Gait & Posture 27 (2008) 493–500.
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