O diafragma é o principal músculo da inspiração, ou seja, quando puxamos o ar, o diafragma se contrai se abaulando no sentido do abdome diminuindo a pressão interna na caixa torácica e facilitando a entrada de ar nos pulmões. É uma divisão músculo-tendínea do tronco em tórax e abdome.
Pode ser dividido em dois segmentos: pilares diafragmáticos e centro tendíneo.
Os pilares diafragmáticos estão firmemente inseridos nas últimas vértebras torácicas (T11 e T12) e nas primeiras lombares (L1-L3), além de inserirem-se nas últimas costelas também. São responsáveis por fazer o movimento de aberturas das costelas facilitando a entrada de ar.
O centro tendíneo localiza-se na parte ântero-central do diafragma e é apenas ele quem se move nas excursões respiratórias. Assemelha-se a um trevo de 3 folhas e nele há o forame da veia cava inferior por onde passa a veia de mesmo nome (além do nervo frênico, discutido mais adiante) que desemboca no coração e é responsável por drenar todo o sangue da porção inferior do corpo.
Além dessa abertura, há outras passagens no diafragma conhecidas como hiatos esofágico e aórtico.
É pelo hiato esofágico, uma abertura ovalada, que passa o esôfago (tubo muscular que provém da boca e termina no estômago). Junto com o esôfago há a passagem dos troncos vagais direito esquerdo (responsáveis pela inervação parassimpática dos órgãos torácicos e grande parte dos abdominais).
Já no hiato aórtico, há a passagem da artéria aorta, principal vaso que sai do coração e envia sangue para todo o corpo. É importante lembrar que a aorta não perfura o diafragma, portanto, um aumento de tensão deste não influencia na passagem de sangue por essa artéria.
Falando no hiato aórtico, este é formado pelos pilares direito e esquerdo do diafragma e também pelo ligamento arqueado mediano. Além desta estrutura há também os ligamentos arqueados medial e lateral que são espessamentos fasciais que revestem os músculos psoas e quadrado lombar, respectivamente.
O músculo psoas é um dos mais importantes quando se pensa em tratamento osteopático das lombalgias. Localiza-se profundamente ao abdome desde os processos transversos das vértebras lombares até a eminência ílio-pectínea (psoas menor) e ao trocânter menor (psoas maior).
Este músculo quando se espasma provoca o aumento da curvatura lombar (hiperlordose lombar) e quando está debilitado causa a diminuição da curvatura (retificação da lordose lombar). Tem uma função importante nas adaptações da pelve, pois quando está espasmado provoca uma fixação na pelve conhecida na terminologia osteopática como ilíaco posterior.
Já o quadrado lombar se localiza na parede posterior do abdome estendendo-se desde as últimas costelas até os ilíacos, com fixação em todas as vértebras lombares. Tem uma função importante na estabilização do tronco. Quando ele entra em espasmo, é capaz de causar uma fixação na pelve chamada ilíaco anterior.
A inervação do diafragma se dá através dos nervos frênicos direito e esquerdo. Estes se originam dos ramos anteriores dos 3º, 4º e 5º segmentos cervicais (C3-C5). Os nervos frênicos enviam ramos aferentes e eferentes, ou seja, dão a ordem para o músculo diafragma contrair (eferência) assim como, dá informações dolorosas e proprioceptivas deste músculo ao sistema nervoso central (aferência). Vale lembrar que a divisão sensitiva do nervo frênico inerva, ainda, o mediastino, o tecido conjuntivo que reveste o fígado e as pleuras.
O diafragma ainda tem um importante papel na função das vísceras pois grande parte delas está conectada por meio de fáscias.
Citando alguns exemplos, o fígado se fixa ao diafragma através de alguns ligamentos chamados: triangulares direito e esquerdo, coronários direito e esquerdo e falciforme. O baço se conecta ao diafragma através do ligamento freno-esplênico e o coração pelo forte ligamento frênico-pericárdico. Qualquer alteração do tônus diafragmático pode repercutir nestas e em outras vísceras.
Uma possível disfunção do diafragma é capaz de ser a causa de um sintoma muito comum entre as pessoas: a pirose (popularmente conhecida como azia).
O esôfago se fixa ao diafragma através do ligamento frenicoesofágico. A musculatura diafragmática que está em volta ao hiato esofágico funciona como uma válvula, liberando a passagem do alimento do esôfago para o estômago e também impedindo-o que retorne ao esôfago. Este “portão” é conhecido como esfíncter esofágico inferior.
Pois bem, se o diafragma não apresenta uma boa função, este esfíncter pode se relaxar e parte do conteúdo gástrico retorna ao esôfago causando o fenômeno chamado refluxo ácido. Acontece que vez ou outra é normal que algo do estômago reflua para o esôfago. O problema é quando isto se cronifica, produzindo sintomas que indicam a existência de lesões teciduais no esôfago, é a chamada Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).
Alguns sintomas comuns da DRGE são:
Percebeu alguma familiaridade nesses sintomas? Talvez, você possa ter essa patologia. Importante frisar que eles são parecidos com queixas de ataque cardíaco e podem muito bem ser confundidos. Outros sintomas menos comuns podem incluir rouquidão, tosse, dor de garganta, dor no ouvido de lactentes, etc. A DRGE pode acometer tanto adultos quanto crianças. Nestas, é importante observar tosses forçadas frequentes e vômitos acompanhados por irritabilidade.
Em um estudo, os pesquisadores investigaram se haveria alguma diferença de pressão do esfíncter esofágico inferior após a técnica de stretching do diafragma.
Vinte e duas pessoas foram colocadas no grupo O de intervenção no qual seria realizada a técnica de stretching do diafragma e 16 no grupo P (placebo) sendo realizada uma técnica simulada. A técnica de stretching consistia na realização de 8 respirações profundas pelo paciente – que se encontrava deitado na maca com os membros inferiores flexionados e pés apoiados – enquanto o terapeuta posicionava suas mãos na borda inferior das últimas costelas. A manobra era realizada em duas fases: nas primeiras 4 respirações, o terapeuta exacerbava manualmente os movimentos respiratórios das costelas e enquanto que nos 4 últimos movimentos respiratórios, durante a fase expiratória, o terapeuta sustentava as costelas impedindo a descida das costelas.
Já a técnica simulada consistia em apenas deixar contato manual no osso esterno e no abdome do paciente enquanto o paciente fazia as mesmas 8 respirações.
Corrêa et al. descobriram que houve um aumento de 9 a 27% da pressão do esfíncter esofágico inferior nos indivíduos que foram submetidos à técnica osteopática enquanto que nas pessoas do grupo placebo houve diminuição dessa pressão – destacando que quanto maior a pressão do esfíncter menores são as chances do conteúdo do estômago retornar ao esôfago. Os pesquisadores ainda destacaram que apesar de ter sido realizada apenas uma técnica ao invés de um tratamento completo para a patologia, os resultados obtidos são de extrema relevância mostrando que a osteopatia pode conseguir resultados fantásticos no tratamento da DRGE.
Infelizmente, é bem comum encontrar pessoas que se tornam escravas de medicamentos inibidores de bombas de prótons como o omeprazol ou anti-ácidos como o Mylanta plus. Hoje se sabe que na maioria dos casos, um ajuste feito na dieta e nos hábitos de vida cotidiana já contribuem imensamente para a diminuição dos sintomas. E os achados deste estudo também dão base para uma outra linha de tratamento através da osteopatia. Obviamente, nem todos os casos poderão ser resolvidos dessa forma (apesar da vontade de qualquer osteopata) sendo que alguns têm sim, indicação cirúrgica. Por isso mesmo, o profissional da saúde deve ter discernimento de quando o caso está a seu alcance e quando este deve ser encaminhado para um médico.
Além da repercussão visceral, é possível afirmar que o músculo diafragma é capaz de influenciar em muitos mecanismos em nosso corpo, especialmente, no que diz respeito às dores que que somos passíveis de sentir. E um dos sintomas mais comuns relacionados ao diafragma é a dor na coluna lombar (lombalgia).
Recentemente, foi publicado um estudo de Janssens et al. afirmando que a fraqueza e fadiga do músculo diafragma eram mais acentuados em pessoas que apresentavam lombalgia.
Foram estudados 10 indivíduos saudáveis e 10 com dor lombar e os pesquisadores concluíram que as pessoas que tinham lombalgia (80% dos indivíduos estudados) apresentaram um alto de grau de fadiga do diafragma quando este era exposto a atividades que o sobrecarregassem.
O diafragma é um importante estabilizador do tronco. Ele é ativado quando carregamos pesos, fazendo que toda a musculatura estabilizadora de tronco (abdominais e músculos profundos da coluna) se contraia e diminua a carga sobre a coluna lombar. A partir do momento em que ele é exigido demasiadamente seja com uma frequência respiratória alta ou o ato de carregar pesos por tempos prolongados, o diafragma entra em fadiga prejudicando a mecânica da coluna lombar e, assim, sendo uma possível causa da lombalgia.
Nesse caso, a osteopatia é capaz de restaurar a função do diafragma e suas possíveis consequências através de uma avaliação física minuciosa, na qual será avaliada a mobilidade dos ossos da pelve – lembrando a relação dos músculos psoas e quadrado lombar com o diafragma -, todo o segmento tóraco-lombar (T11-L3) e as inserções dos pilares diafragmáticos, as porções cervicais da coluna vertebral e a inervação do diafragma, além, é claro de avaliar a excursão do diafragma durante as respirações. Não é a toa que a osteopatia é conhecida como uma terapia holística já que praticamente toda a coluna do paciente é avaliada para verificar o que pode prejudicar a função do diafragma e, consequentemente, a da coluna lombar.
É, portanto, relevante que o seu diafragma seja avaliado e tratado caso um paciente tenha queixas de dor lombar e/ou viscerais.
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